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segunda-feira, 5 de setembro de 2011
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
A Carta-testamento e o legado de Vargas
A Carta-testamento e o legado de Vargas

Segundo o relato de familiares e colaboradores, ao lado do corpo de Getúlio Vargas foi encontrada a cópia de uma carta com sua assinatura, dirigida ao povo brasileiro. Nessa carta ficavam explícitas as razões que o tinham levado ao gesto extremo do suicídio e eram indicados os responsáveis pelo desfecho trágico: grupos internacionais cujos interesses o governo contrariara, aliados a grupos nacionais que se opunham ao que Vargas definia como "o regime de garantia do trabalho". Unidos, eles haviam deflagrado um bombardeio sem tréguas ao qual o presidente não mais podia resistir, um bombardeio que pretendia atingir sua pessoa, mas que, segundo suas palavras, visava a derrotar as conquistas que o governo assegurara ao povo brasileiro. No texto, Vargas colocava-se, enquanto governante, no papel de defensor, representante e libertador do povo. Com sua morte, buscava sagrar-se seu mártir e consolidar seu nome no panteão político brasileiro, associando-o definitivamente à bandeira dos interesses nacionais e do trabalhismo. Revelador dessa intenção é o trecho em que se lê: "Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco... Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta."

Ainda que a autoria da carta tenha sido questionada e que o documento original nunca tenha vindo a público, sua leitura provocou reações emocionadas da população, o que só pôde acontecer porque seu conteúdo fazia sentido, era crível. Mais importante do que as controvérsias, portanto, é o fato de que o suicídio e a irradiação da carta para todo o território nacional foram capazes de produzir sensíveis alterações nos rumos políticos do país. A atmosfera acusatória que pairava contra o presidente e a queda de sua popularidade, especialmente após o atentado contra Carlos Lacerda, deram lugar a manifestações violentas, principalmente nos centros urbanos, nas quais a União Democrática Nacional (UDN) e toda a oposição, bem como o governo norte-americano, eram responsabilizados pelo destino de Vargas. O cortejo que acompanhou o corpo do presidente ao aeroporto Santos Dumont, no dia 25 de agosto, de onde embarcou para São Borja, reuniu uma multidão nunca vista na história do Rio de Janeiro. A oposição, diante da reação popular, viu-se obrigada a recuar, perdendo a vantagem política que acumulara no período que antecedeu o suicídio.


O herdeiro mais imediato de Vargas foi, sem dúvida, João Goulart, seu combatido ex-ministro do Trabalho, líder em torno de quem se articulariam as principais forças do trabalhismo e cuja penetração junto aos meios sindicais e às massas trabalhadoras continuaria a alimentar a desconfiança dos círculos antigetulistas. Além de Goulart, o próprio Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que imediatamente incorporou a Carta-testamento ao seu programa político, herdaria as principais bandeiras de Vargas. Mas também Juscelino, Brizola e o Partido Democrático Trabalhista (PDT) – fundado após a extinção do bipartidarismo em 1979 –, entre outros atores sociais, buscaram legitimar-se apoiados no legado varguista, que durante muitas décadas constituiu uma das bases da vida política brasileira. Ainda hoje, 50 anos depois, esse legado é fonte de discussão, e o fim da Era Vargas continua sendo anunciado, seja como um sinal positivo, que o associa à superação dos entraves representados por uma forte presença do Estado na economia, seja, inversamente, no sentido da perda de conquistas da classe trabalhadora. De uma maneira ou de outra, o que está em jogo é a projeção do passado no presente. Essa projeção constitui a própria idéia de legado e diz respeito à atualização de um conjunto de idéias, mas também de símbolos, de imagens, que mudam no tempo, re-significados de acordo com os ditames do presente. A vitalidade do legado varguista reside, exatamente, nas múltiplas apropriações de que foi objeto, na existência de porta-vozes que o reivindicam, de instituições que o preservam e de comemorações que o reinventam.
Luciana Quillet Heymann
Marcadores:
Era Vargas,
Período Democrático
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
domingo, 7 de agosto de 2011
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